sábado, 31 de outubro de 2015

No dia das Bruxas. Conto PAGÃ.

Olá!!
Hoje, o primeiro dia do Samhain, conhecido popularmente por Dia das Bruxas e que envolve muitas discussões. Trago meu conto PAGÃ, publicado em 2010, na antologia Tratado Secreto da Magia, da Ed. Andross.
PAGÃ
A chuva ainda cai do lado de fora e eu só consigo imaginar minha horta. Meu pé de manjericão florido e perfumado! Mesmo aqui eu gosto de sentir o perfume da terra molhada e se pudesse iria dançar sob essa chuva de água doce...
Ainda não entendo. Não sei o que fiz para que me trancafiassem aqui. Busco na minha mente algo de ruim que tenha feito, mas não consigo me lembrar de nada!
Lembro-me de cuidar de minhas plantas, de colher as folhas para os chás. Lembro-me de gostar de me arrumar, de ficar bonita e chamar a atenção dos homens.
Homens... sei que tive alguns, mas nunca fiz nada de errado! Apenas os deixava felizes, coisa que muitos não conseguiam com suas mulheres.
Mulheres... seres complicados. Se seus maridos estavam melhores na cama, era por que elas haviam conseguido a proeza. Se os homens demonstrassem desinteresse, falta de apetite por seus corpos, ou me culpavam ou me procuravam, não para que lhes desse dicas de como realmente agradá-los, mas para pedir alguma água de cheiro, que eu produzia com minhas plantas e raízes perfumadas, ou alguma infusão que as deixassem mais fogosas ou fizessem seus maridos as olharem com desejo e até com amor... Fui muito procurada por elas, as casadas.
As jovens solteiras sempre estavam atrás de mim querendo que lhes ajudasse a conquistar um rapaz, a se livrar de uma concorrente ou de um filho indesejado e até pediam que eu preparasse algum chá que as fizesse ficar virgens novamente e enganassem seus noivos!
Eu ajudei a todos! Sempre o fiz de bom coração e, na maioria das vezes, não recebia nada em troca. Às vezes ganhava uma galinha, um porquinho, mas isso era raro. Contudo, não era isso que me importava. Eu queria era ficar cuidando das minhas plantas, andando descalça pela terra, falando com minhas árvores e plantas companheiras...
Algumas mães não deixavam que seus filhos olhassem para mim quando eu ia ao armazém, embora eu tenha ajudado algumas delas a engravidar. Não me importava quando algumas crianças faziam apostas entre si e então batiam na minha porta e saíam correndo. Eu as ouvia ao longe dando gritos e rindo. Deveria ser uma brincadeira bastante divertida... até o dia em que pegaram meu gato e o arrastaram pelas ruas de terra até arrancarem sua linda pele de pelos negros...
Isso aconteceu logo depois da chegada de um homem que se autodenominava pastor. Assim que ele chegou à aldeia se fez conhecer por todo mundo e rapidamente construiu um prédio que se destacava das construções da minha aldeia. Ele falava alto, gesticulava bastante e empurrava todos para dentro daquele prédio que ele chamava de igreja.
Diziam que lá encontravam alguém que não tinha corpo, mas estava olhando tudo. Não me agradava o tal Invisível e eu preferi ficar com aquilo que eu tinha, a natureza. Eu falava com ela e ela me respondia através das plantas, da chuva, do vento e do sol. Nunca fui àquela igreja.
Quando me trouxeram para cá, disseram que era a vontade do Invisível. Tentei me comunicar com ele para saber o motivo, mas não obtive resposta. Meu carcereiro ouviu minha tentativa de conversa e saiu correndo, voltando com o pastor que estava acompanhado da mulher.
Eu fiquei com pena dela, juro! Era jovem e cobria o corpo todo, até os cabelos estavam cobertos por uma touca horrível! Eu até cheguei a pensar: Será que estou aqui porque uso meus cabelos soltos? E meu colo, que sempre achei lindo, está aparente? Até escondi meu colo instintivamente com meu xale, tentando ser solidária com aquela mulher.
O pastor me olhava como se estivesse diante de um estábulo ou um cercado com animais.Reconheço que, depois de dias trancafiada, não tinha um perfume muito bom, mas ele parecia querer me farejar enquanto segurava um livro preto nas mãos.
- Com quem conversava? – perguntou-me com aquele olhar superior e eu custei a entender a pergunta. – A quem pedia ajuda? – ele insistiu.
Eu me levantei e fui até perto de onde ele estava com a mulher e eles deram um passo para trás, como que se tivessem levado um choque com a minha aproximação.
- Queria saber por que estou aqui. – falei olhando-o nos olhos e consegui decifrar muito daquele homem, afinal eu conhecia muitos homens.
Vi que ele tinha outras mulheres e a mulher sabia, talvez fosse esse o motivo para que ela se escondesse à sombra dele.
- Você é uma bruxa? – ele me perguntou e seus olhos passearam pelo meu colo. – Falava com o demônio?
Bruxa, demônio... eu nunca tinha ouvido aquelas palavras antes e o olhei sem compreender.
- Você faz bruxaria na sua casa? Faz feitiços para atrapalhar a vida de pessoas honestas e tementes a Deus? – ele me interrogava.
- Faço chás, infusões e perfumes... – eu respondi com toda a honestidade, pois era aquilo que eu fazia.
- E conversava com o demônio pedindo para que lhe tirasse daqui? – ele sorriu ironicamente.
- Falava com o Invisível, mas ele não respondeu, então não era uma conversa... – respondi com sinceridade.
- Invisível?! – ele arregalou os olhos. – Quem te ajuda, bruxa?
- Não é o Invisível que você levou lá para a igreja? – eu ainda me permiti tentar explicar.
- Deus! Você chama Deus de Invisível? – o rosto dele ficou vermelho. – Não acredita Nele? – a essa altura a mulher dele já me olhava como seu eu estivesse com lepra.
- Chame ele aqui que eu converso! Eu nem sei como ele é! Com quem se parece? Não o vi na aldeia! – e eu realmente não o tinha visto ainda, portanto, para mim, era Invisível.
- Herege! – ele falou cuspindo sobre mim, brandindo aquele livro preto diante de meu rosto e saiu pisando duro seguido pela mulher que talvez fosse muda.
Mas ele voltou mais tarde, sozinho, e afirmou que me faria confessar meu crime.
- Bruxa! – acusou-me antes de me agarrar dentro da cela e enfiar o rosto no meu colo arfando de desejo.
Ele era um homem como qualquer outro daquela vila e até senti pena, mas então, ele me bateu, me xingou e... me usou. Depois, como se tivesse cumprido uma missão especial, arrumou a roupa preta no corpo, ajeitou os cabelos escorridos, pegou o livro preto que deixara no chão e me encarou enquanto eu estava largada no chão, sangrando.
- Não há salvação para você. Sua alma está perdida.
Dito isso, virou-se e saiu batendo a porta da minha cela. Fiquei ali sem entender o que havia acontecido. Pouco depois, o carcereiro apareceu e entrou na minha cela. Não me explicou nada, apenas me jogou no chão e repetiu as lições do pastor, enquanto me chamava de bruxa. Satisfeito, trancou a porta da cela.
- Amanhã vai para a fogueira! Peça ajuda ao demônio seu amigo! – ele disse e riu.
Eu fiquei ali e chorei, eu não sabia quem era esse amigo que poderia me ajudar! Eu não tinha amigos na aldeia!
Agora vejo todo o povo da aldeia reunido em volta de um tronco de árvore cercado de lenha e palha. Minhas mãos estão amarradas diante do meu corpo. Minha roupa, que foi rasgada pelo pastor e pelo carcereiro, me faz parecer uma trouxa de roupas velhas. Meu cabelo, que eu cuidava com tanto carinho, está todo despenteado, cheio de palha e lama do chão da minha cela.
Olho para aquelas pessoas que tantas vezes ajudei, muitas me xingam e me chamam de bruxa. Algumas mulheres não aguentam meu olhar e viram os rostos.Toda a aldeia está ali...
Meu pensamento está nas minhas plantas... Quem cuidará delas? Quem conversará com elas para que floresçam? Quem adubará a terra? E é essa tristeza que me consome.
Sei que não adiantará gritar, isso só os deixaria mais animados.
Vou ser queimada e ainda não sei se por causa dos chás, dos perfumes ou por causa de minha lascívia.
O carcereiro, que sentiu o gosto do meu corpo, me puxa com violência e me leva para junto daquele tronco. Ele me amarra e então eu sinto algo mágico!
A madeira da árvore recém cortada está perfumada! Assim como eu, ela sabe que a morte é certa, mas está firme e me apóia, me reconforta... eu recosto nela minha cabeça em busca de consolá-la também e naquele momento eu consigo sorrir. Sei que eu estarei com a natureza. Poderei me juntar às plantas e à chuva, deixarei que o vento me sopre para onde desejar...
- Ela sorri! O demônio fala com ela! – eu ouço a voz do pastor que grita no meio do povo.
- Bruxa! – é o eco das vozes em volta de mim.
O vento vem acariciar meu rosto e leva embora as vozes e, finalmente, eu sinto o sol... Ele nasce debaixo de meus pés, é forte, poderoso, quente e caminha sobre meu corpo fazendo-o arder...eu amo o sol...
(Este conto está registrado na Biblioteca Nacional e não pode ser reproduzido sem autorização da autora, obrigada)

sábado, 17 de outubro de 2015

Promoção de Outubro: As Filhas de Dana

Olá!!
Este mês de Outubro tem promoção aqui no blog dos livros Paganus e Samhain, em um pack autografado. (50,00 + 8,00 de frete).
Em Novembro tem o lançamento do último livro dessa trilogia: Beltane. =)
O pagamento pode ser no boleto ou cartão, pelo Pagseguro. O botão de pagamento está na barra lateral! =)
Número limitado de exemplares, ok?
Experimentem esse romance histórico e garanto que não irão se arrepender.